Entrevista com PAULLO ANAYA
CEO da OpenSenses
Olá, leitor! Hoje quero compartilhar com você a história inspiradora de Paullo Anaya, CEO da OpenSenses, uma empresa que tem mudado o jogo quando se trata de acessibilidade e comunicação para pessoas com deficiência. Nessa entrevista vamos descobrir mais sobre sua trajetória, os desafios enfrentados nesse setor e o impacto que ele e sua equipe estão criando no mundo.
MARI CHAGAS: Para começar, por favor, conte um pouco sobre você.
PAULLO ANAYA: Minha carreira começou na publicidade e propaganda, onde trabalhei por mais de 20 anos como diretor de arte e editor em várias agências. Mas sempre fui apaixonado por arte, especialmente pelo desenho e pintura, algo que ainda faço no meu tempo livre. Quando não estou lidando com questões de acessibilidade, adoro explorar novas experiências gastronômicas em São Paulo, praticando o que chamaria de um hobby autoral: cozinhar. Também sou muito ligado à espiritualidade e me envolvo em projetos sociais com centros espíritas. Sou casado com a Claudia, que é minha parceira não só na vida pessoal, mas também no trabalho, pois compartilhamos muito da mesma visão criativa. E, claro, adoro estar com minha família, que me apoia em todos os meus projetos.
MC: O que inspirou você a criar a Open Senses e focar em acessibilidade comunicacional?
PA: Minha experiência com livros didáticos revelou a falta de acessibilidade para pessoas cegas e surdas. Isso me levou a esboçar um modelo de negócio focado em tornar conteúdos acessíveis. Sem parentes PcDs e sem uma deficiência diagnosticada, sempre senti que o mundo precisava de um elo entre pessoas com e sem deficiência. Em 2013, decidi mudar minha vida, fechei minha agência e ingressei na incubadora da Escola de Negócios Sebrae Alencar Burti, onde desenvolvi o projeto da OpenSenses. Em 2016, a empresa entrou no mercado como um gestor de conteúdo LMS para PcDs, mas a pressão do mercado levou a um foco maior em serviços. Empreender precisa ter estômago e sangue frio, o Brasil não é um país que acolhe seus empreendedores, pelo contrário, parece que desejam que você desapareça. Uma vez ouvi uma frase no Sebrae que ilustra bem isso. ‘O Brasil é o único país que quer matar a galinha dos ovos de ouro.’ As pequenas empresas hoje mostraram que são uma grande força na economia, mas nosso governo infelizmente ainda não aprendeu como trata-las.
MC: Quais foram os maiores desafios ao implementar tecnologias de acessibilidade, como o OpenMaps?
PA: O OpenMaps foi uma ideia que tive nos corredores do Sebrae São Paulo, como tudo que faço sempre penso nesse público, como eles acessam isso ou aquilo, minha cabeça trabalha o tempo todo e esse tema é intrínseco para mim, faz parte do meu ser, não é só empatia, eu realmente tenho um propósito de vida, e não é ser o bonzinho como muitos pensam, mas sim quero ajudar a construir um mundo mais justo, onde as oportunidades são para todos. Construir um ambiente acessível para que nunca mais exista deficiência.
Meu olhar sempre entendeu que o que está deficiente é de fato o ambiente e não as pessoas. Essa carga de adaptação tem que estar no ambiente e não focado nas pessoas. Sobre o desafio que ainda enfrento é financiamento. O projeto ainda está no começo, o aplicativo ainda tem muito a desenvolver e entregar. E os maiores desafios são, primeiro é ter recursos para empregar e segundo é encontrar profissionais capacitados.
MC: Como você enxerga o impacto da tecnologia no fortalecimento da inclusão e autonomia das pessoas com deficiência?
PA: Eu sou muito otimista quanto ao impacto que a tecnologia pode ter. O OpenMaps, por exemplo, utiliza sensores de IoT e está integrando inteligência artificial para oferecer rotas alternativas e dicas sobre como circular em espaços como shoppings, metrôs e universidades. O impacto disso é profundo, pois a ideia é eliminar as barreiras físicas que existem nos ambientes. A tecnologia pode transformar vidas, mas não é apenas sobre criar soluções. É preciso garantir que essas soluções sejam aplicadas da forma certa, de modo que realmente façam diferença na vida das pessoas com deficiência.
MC: Qual é o diferencial do OpenMaps em relação a outras soluções de acessibilidade no mercado?
PA: O diferencial do OpenMaps está em como ele combina tecnologia e praticidade. Enquanto outras soluções existem, nosso projeto vai além. Usamos a tecnologia para mapear ambientes, detectar obstáculos e criar rotas seguras. Isso é mais do que uma simples aplicação para deficientes visuais. É sobre transformar ambientes em lugares acessíveis, de verdade. Nós não vemos as pessoas com deficiência como o problema. O problema está no ambiente em que elas se encontram. O OpenMaps é uma forma de reverter essa lógica e garantir que todos possam ter uma experiência segura e acessível, onde quer que estejam.
MC: Quais foram os maiores desafios que você enfrentou ao implementar tecnologias de acessibilidade, como o OpenMaps?
PA: O projeto ainda está no início, e apesar de sua inovação, captar recursos é difícil. Investidores, muitas vezes, desistem na última hora, subestimando a importância da acessibilidade. Já ouvi muitos comentários equivocados, como se pessoas com deficiência não fossem consumidores. Trabalhar para PcDs é quase sentir na pele a rejeição do mercado. Falta apoio de instituições e empresas que realmente queiram transformar a realidade.
MC: Como começou a parceria entre a Open Senses e a Mosaiky?
PA: Nossa parceria iniciou ano passado, em 2024, quando fomos contactados para fazer acessibilidade do projeto “Graffiti #Pracegover”, de um mural do artísta Subto, depois fizemos outro projeto, o “Cinerodas”. Foram mais de 50 animações premiadas do mundo todo com audiodescrição e legenda descritiva LSE, um tipo de legenda para surdos e ensurdecidos. Um trabalho incrível que considero um dos cases na OpenSenses. Além das animações serem extremamente bem produzidas, o nosso trabalho de tornar acessível também foi impecável.
Essa parceria já vinha prometendo bons frutos desde o início.
MC: Quais foram os resultados mais marcantes dessa colaboração até agora?
PA: Acredito que a parte marcante é poder levar o app OpenMaps junto ao projeto que já possui Braille e um QR Code com nossa audiodescrição. Colocar essa cereja no bolo com um aplicativo que dá a liberdade do caminhar e receber audiodescrição diretamente no smartphone, é algo inovador de fato. Nós tivemos o cuidado de mapear mais cinco obras próximas ao Graffiti da Mosaiky para levar audiodescrição através do app. O SP1/TV Globo gravou uma matéria a respeito, mas não falou do OpenMaps apenas salientou que tem aplicativo de geolocalização com audiodescrição ali na região.
MC: Quais mudanças você já conseguiu observar na percepção das pessoas sobre acessibilidade graças às soluções da OpenSenses?
PA: Desde o início, em 2016, as mudanças ainda são sutis, mas é possível notar que tudo o que fizemos hoje é de certa forma copiado. Mas algo relevante do próprio público PcD mudou: as exigências são maiores por parte do público, há mais preocupação de verificar se está bom, se está realmente acessível ou se deveria melhorar. Quando fizemos o piloto do OpenMaps no metrô em São Paulo em 2023, a participação de PcDs surpreendeu. Dezenas de opiniões coletadas e muito carinho de todos. Acredito que esse movimento vai se intensificar cada vez mais por conta das iniciativas. E a participação deles é imprescindível!