Entrevista com Gatuno: Grafiteiro participa da nova edição do projeto “Grafitti #PraCegoVer” com obra que é referência no Beco do Batman

O projeto “Grafitti #PraCegoVer®” segue sua missão de tornar a arte urbana mais inclusiva e acessível, promovendo obras que podem ser apreciadas não apenas com os olhos, mas também com as mãos. Até o dia 3 de junho, a Caixa Cultural de São Paulo recebe a nova edição da exposição, que convida o público a experimentar o grafite de uma forma sensorial, com obras adaptadas para pessoas com deficiência visual. A proposta une arte, acessibilidade e empatia em um espaço onde todos podem se conectar com as obras por meio do tato e da imaginação.

 

Um dos destaques desta edição é a participação do grafiteiro Gatuno, responsável pelas famosas asas coloridas que se tornaram ponto obrigatório de quem visita o Beco do Batman, e por seu personagem inspirado em um gato de olhar penetrante, que, pela primeira vez, adapta essa obra emblemática para o formato tátil.

 

Nessa entrevista, Gatuno compartilha detalhes de sua trajetória, processo criativo, e o impacto transformador do Graffiti Pra Cego Ver.

 

 

Mari Chagas: Conta pra gente um pouco sobre a sua trajetória e como surgiu o Gatuno grafiteiro?

Gatuno: Desde pequeno eu já desenhava. Então isso sempre fez parte da minha vida. Cresci no Cambuci, um dos berços do grafite em São Paulo, e isso me influenciou bastante. Em 20 e10, comecei a desenvolver meu estilo próprio, testando várias técnicas, mas sem encontrar algo que me representasse. Até que um dia, vendo meu gato dormindo em cima da TV, resolvi desenhá-lo — e isso mudou tudo. Passei três anos desenhando a cara dele, e como ainda não tinha nome, as pessoas começaram a apelidar. Pela expressão dele, um olhar mais sério, bigodes grandes e cara de malandro noturno, alguém falou “Gatuno”. Não consegui mais separar o nome da imagem, e o personagem nasceu ali.

 

 

MC: Quais são suas maiores inspirações quando está criando?

G: Me inspiro muito nos animais, na natureza e em elementos fractais. Gosto de explorar padrões orgânicos que remetem a uma natureza mais psicodélica.

 

 

MC: Como foi receber o convite para participar do “Grafitti #PraCegoVer” na Caixa Cultural?

G: Foi muito emocionante! Era algo totalmente diferente do que eu imaginava e acabou superando minhas expectativas. Fazer parte disso foi transformador.

 

 

MC: Por que você escolheu adaptar justamente a asa do Beco do Batman para essa edição?

G: Acredito que muita gente já conhece as asas no Beco, mas o público cego ainda não teve essa experiência. Adaptar essa obra pra eles foi uma forma de permitir que acessem esse símbolo e sintam a energia que ela transmite.

 

 

MC: Qual é o significado da asa e da adaptação que você fez para essa edição?

G: A asa sempre foi a cara do gato, mesmo que muitos não percebam. Ela representa liberdade, imaginação, a possibilidade de voar para outros mundos. A adaptação foi feita pensando em manter essa energia, mas de forma que pudesse ser sentida também pelo toque.

 

 

MC: Participar de um projeto acessível muda a sua forma de pensar e criar arte?

G: Com certeza. Isso me inspirou ainda mais a criar, me fez repensar como a arte pode ser sentida de outras formas além da visão.

 

 

MC: Quais foram os maiores desafios ao adaptar sua arte para o formato tátil?

G: Os micro detalhes. Tive que usar pincéis bem finos para destacar as texturas da superfície. Foi desafiador, mas no final ficou bem legal a experiência.

 

 

MC: O que você espera que uma pessoa cega sinta ao tocar sua obra?

G: Espero que seja como entrar num portal de sensações. Que ela se teletransporte para um universo paralelo de emoções, onde tudo é possível.

 

 

MC: Como você vê o papel da arte urbana em projetos de inclusão e acessibilidade como o “Grafitti #PraCegoVer”?

G: Acho essencial. A arte tem que chegar em todo mundo. Projetos como esse mostram que o objetivo da arte — de comunicar, incluir e emocionar — está sendo alcançado.

 

MC: Na sua opinião, como a arte pode provocar mais empatia e conexão entre diferentes públicos?

G: A resposta é acessibilidade. Levar a arte para quem normalmente não tem acesso. O grafite, por estar nas ruas, já é acessível por natureza. Ele me apresentou a cidade e pessoas incríveis. Isso mostra a importância da conexão entre diferentes públicos.

 

 

MC: Que mensagem você gostaria de deixar para quem for visitar sua obra na exposição?

G: Que abra o portal da imaginação.

 

 

MC: E para outros artistas urbanos, qual o convite que você faria para que também se envolvam com projetos inclusivos como este?

G: Convido todos a abrirem portais para pessoas que não conseguem ver com os olhos, mas sentem com o coração. Tenho certeza de que muitos artistas vão topar essa missão.

Mari Chagas

Mari Chagas

Jornalista

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Sou jornalista, uma mulher com deficiência que vive com paralisia cerebral. Aprendi a transformar meus desafios em inspiração. Sou influencer digital PCD de Americana, interior de SP.

 

Amo comunicação, estudo jornalismo e tenho uma grande paixão por narrativas autênticas. Produzo conteúdos e publico em jornais, além de ser ativa nas redes sociais e aqui na minha coluna. Adoro arte em todas as suas formas de expressão, dança, leitura e escrita. Aprecio viajar e participar de aventuras radicais. Meu lema de vida é: “viva intensamente!”.

 

Minha determinação é destacar vozes que merecem ser ouvidas, através do meu trabalho que também é meu propósito de vida. Conecte-se comigo no Instagram @mari_chagasoficial.

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