Entevista com Andréia Nasser Figueiredo: Bióloga e educadora ambiental do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS)

Retratado na terceira edição do projeto Grafitti para Cego Ver, o tatu-canastra surge das mãos do artista Fernando Berg como um símbolo de resistência e equilíbrio ecológico. Maior espécie de tatu do mundo e um personagem misterioso das florestas sul-americanas, ele convida o público a enxergar além da arte: a urgência da conservação ambiental. Para entender melhor os desafios de sua preservação, conversamos com Andréia Nasser Figueiredo, bióloga e educadora ambiental do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS). Mais do que uma homenagem ao grafite, a obra – em exibição até 29 de abril no Beco do Batman – amplia o olhar sobre a biodiversidade e democratiza o acesso à arte e ao conhecimento, garantindo que todos, com ou sem visão, possam sentir e compreender a riqueza da nossa fauna.

 

Mari Chagas: Para começar, se apresente para o público. Quem é você e qual é o seu trabalho na proteção do tatu-canastra?

 

Meu nome é Andréia Nasser Figueiredo, sou bióloga e educadora ambiental. Desde 2018, coordeno a área educativa do Instituto de Conservação de Animais Silvestres, o ICAS. O ICAS é uma ONG fundada em 2016, com o objetivo de promover a coexistência entre humanos e fauna por meio de ações de pesquisa, educação, comunicação e fomento a políticas públicas. Nosso foco está no tatu-canastra e no tamanduá-bandeira. Nosso projeto mais antigo, anterior até a criação da ONG, é o Projeto Tatu-Canastra Pantanal, iniciado em 2010. A equipe de pesquisa trabalha na mesma região do Pantanal do Mato Grosso do Sul há anos e foi responsável por descobertas importantes sobre a espécie, como seu comportamento noturno, informações sobre sua reprodução e, principalmente, seu papel crucial na natureza, o que lhe rendeu o título de “engenheiro do ecossistema”. Já observamos mais de 100 espécies de vertebrados utilizando as tocas do tatu para diferentes funções.

 

MC: Como surgiu a parceria entre o ICAS e a Mosaiky para incluir o tatu-canastra no “Grafitti para Cego Ver”?

 

ANF: Foi uma grata coincidência! Um dos artistas convidados, o Fernando Berg, já é um parceiro nosso e escolheu o tatu-canastra para representar nesse projeto. Ele fez a ponte entre o ICAS e a Mosaiky, o que nos permitiu unir conservação ambiental e acessibilidade por meio da arte.

 

MC: Qual é a importância de levar a imagem desse animal para o espaço urbano através do grafite?

 

ANF: O tatu-canastra é um animal incrível, mas extremamente raro de se ver na natureza. Ele tem hábitos noturnos, apenas um filhote por vez e passa muito tempo cuidando dele. Vive em grandes territórios e enfrenta ameaças como a fragmentação do habitat, queimadas e, em algumas regiões, a caça. Por tudo isso, é uma espécie ameaçada de extinção, e muita gente nem sabe que ele existe! Ter sua imagem na cidade muda essa realidade. A arte tem o poder de encantar e despertar a curiosidade, fazendo com que as pessoas se interessem mais pelo tatu-canastra e pela sua conservação.

 

MC: O tatu-canastra é pouco conhecido pelo público. Quais características dessa espécie mais te impressionam e que gostaria que as pessoas conhecessem?

 

ANF: O tatu-canastra é a maior espécie de tatu do mundo! O que mais me impressiona são suas garras dianteiras, que podem chegar a 15cm de comprimento. Ele usa essas unhas enormes para cavar suas tocas e se apoia nelas para andar, o que o torna ainda mais fascinante.

 

MC: Você acredita que a arte pode ser uma aliada na conservação ambiental? De que forma?

 

ANF: Com certeza! A arte tem dois papéis fundamentais: primeiro, o do encantamento, aproximando as pessoas da fauna de uma forma visual e sensível. Segundo, o papel ativista, trazendo reflexões sobre os desafios da conservação e incentivando mudanças.

 

MC: Como vê a conexão entre acessibilidade e preservação da fauna nesse projeto?

 

ANF: Fiquei encantada com essa proposta! A conexão acontece justamente porque o projeto torna o conhecimento sobre a fauna brasileira acessível para todos os públicos. Isso amplia o impacto da conservação e faz com que mais pessoas se sintam parte dessa causa.

 

MC: Quais são os principais desafios na proteção do tatu-canastra hoje?

 

ANF: Estudamos o tatu-canastra em três biomas diferentes: Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica. Em cada um deles, os desafios variam.

 

– No Pantanal, o fogo é a maior ameaça.

– No Cerrado do Mato Grosso do Sul e na Mata Atlântica de Minas Gerais, a fragmentação do habitat é o problema principal.

 

Esses fatores dificultam a sobrevivência da espécie e tornam nosso trabalho ainda mais essencial.

 

 

MC: Além do grafite, há outras ações planejadas para conscientizar a população sobre essa espécie?

 

ANF: No momento, nossa ação principal em São Paulo foi estar presente no evento, conversando com as pessoas e compartilhando informações sobre o tatu-canastra. Mas estamos sempre buscando novas formas de conscientização.

 

MC: Que mensagem gostaria de deixar para quem vai ver e sentir essa arte?

 

ANF: Que venham conhecer mais sobre o tatu-canastra! Ele é uma espécie única da América do Sul e merece ser protegida. Todos nós podemos contribuir para sua conservação!

Mari Chagas

Mari Chagas

Jornalista

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Sou colunista da Mosaiky, uma mulher com deficiência que vive há 28 anos com paralisia cerebral. Aprendi a transformar meus desafios em inspiração. Sou influencer digital PCD de Americana, interior de SP.

 

Amo comunicação, estudo jornalismo e tenho uma grande paixão por narrativas autênticas. Produzo conteúdos e publico em jornais, além de ser ativa nas redes sociais e aqui na minha coluna. Adoro arte em todas as suas formas de expressão, dança, leitura e escrita. Aprecio viajar e participar de aventuras radicais. Meu lema de vida é: “viva intensamente!”.

 

Minha determinação é destacar vozes que merecem ser ouvidas, através do meu trabalho que também é meu propósito de vida. Conecte-se comigo no Instagram @mari_chagasoficial ou por e-mail: marichagas@mosaiky.com.br.

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