A falta de acessibilidade nas praias de Santos

Desde pequena, sempre imaginei a praia como um espaço democrático, um lugar onde todos pudessem sentir a brisa do mar, ouvir o som das ondas e simplesmente se desligar da rotina. Afinal, a praia não tem catraca, ingresso ou restrição de público — pelo menos na teoria. Mas, na prática, será que realmente todas as pessoas conseguem aproveitá-la da mesma forma?

 

Recentemente, fui a Santos (SP) e, ao caminhar pela orla e observar a estrutura do local, percebi que a acessibilidade na praia ainda é um sonho distante. E isso me fez refletir: quantas pessoas com deficiência, idosos ou pessoas com mobilidade reduzida deixam de sentir o mar porque simplesmente não há condições para isso?

 

A primeira barreira apareceu antes mesmo de eu chegar à areia. As calçadas, que deveriam ser um caminho seguro e confortável para todos, eram estreitas, irregulares e cheias de obstáculos. Em alguns trechos, placas, postes e lixeiras estavam posicionados de maneira que dificultavam (ou até impossibilitavam) a passagem de um cadeirante ou de alguém com mobilidade reduzida.

 

Além disso, o piso era formado por pedras e trechos desnivelados, o que aumentava o risco de quedas e dificultava ainda mais a locomoção. Para quem tem deficiência visual, a falta de um piso tátil bem distribuído torna a caminhada perigosa e cheia de incertezas. A cidade, que recebe tantos turistas e tem uma das orlas mais conhecidas do país, ainda precisa avançar muito para garantir um espaço urbano realmente acessível.

 

 

Cadeiras anfíbias: um direito que ainda não virou realidade

 

Se já foi difícil caminhar pela orla, a frustração aumentou quando percebi que não havia cadeiras anfíbias disponíveis para acesso ao mar. Essas cadeiras são fundamentais para permitir que pessoas com deficiência ou dificuldades motoras possam entrar na água com segurança, mas em Santos elas simplesmente não existem (ou não estavam lá).

 

A ausência desse equipamento me fez refletir sobre como a acessibilidade ainda é vista como um detalhe ou um luxo, quando na verdade deveria ser algo básico. Muitas praias pelo Brasil já oferecem esse serviço gratuitamente, mas ele ainda não é uma realidade em todas as cidades litorâneas. E enquanto isso não acontece, muitas pessoas continuam excluídas desse direito.

 

Fiquei imaginando quantas crianças, adultos e idosos gostariam de sentir o mar, mas não podem porque não há estrutura suficiente. E isso não deveria depender de iniciativas isoladas de ONGs ou projetos sociais. As prefeituras e órgãos responsáveis deveriam garantir esse direito de forma contínua, porque lazer também é qualidade de vida.

 

 

Esteiras de acesso: um caminho que não existe

 

Outra coisa que me chamou a atenção foi a falta de esteiras de acesso à areia. Parece um detalhe simples, mas faz toda a diferença. Quem já tentou empurrar uma cadeira de rodas, um carrinho de bebê ou até mesmo carregar sacolas pesadas na areia sabe o quão difícil é se locomover sem um caminho firme.

 

 

As esteiras de acesso criam essa trilha e permitem que mais pessoas possam chegar próximas ao mar sem precisar de ajuda. Algumas praias brasileiras já adotaram essa solução, mas em Santos não vi nada parecido. Isso significa que, para muitas pessoas, o mais próximo que podem chegar do mar é o calçadão. E isso está longe de ser justo.

 

 

A acessibilidade precisa ser prioridade

 

A falta de acessibilidade na praia não é um problema exclusivo de Santos, mas essa experiência me fez perceber que ainda temos um longo caminho pela frente. Muitas vezes, as cidades investem em infraestrutura turística, mas esquecem de garantir que essa infraestrutura seja inclusiva.

 

A praia deveria ser um lugar para todos, independentemente da condição física de cada um. Mas, enquanto não houver calçadas acessíveis, cadeiras anfíbias e esteiras para locomoção, continuaremos excluindo milhares de pessoas desse direito básico ao lazer.

 

A acessibilidade não pode ser vista como um privilégio ou um detalhe opcional. Ela deve ser parte do planejamento urbano de qualquer cidade que se preocupa com seus moradores e visitantes. Espero que um dia possamos ver mais iniciativas voltadas para a inclusão, para que todas as pessoas tenham a chance de sentir a liberdade que o mar proporciona.

 

Porque, no fim das contas, o mar é de todos. Ou pelo menos deveria ser.

Mari Chagas

Mari Chagas

Jornalista

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Sou colunista da Mosaiky, uma mulher com deficiência que vive há 28 anos com paralisia cerebral. Aprendi a transformar meus desafios em inspiração. Sou influencer digital PCD de Americana, interior de SP.

 

Amo comunicação, estudo jornalismo e tenho uma grande paixão por narrativas autênticas. Produzo conteúdos e publico em jornais, além de ser ativa nas redes sociais e aqui na minha coluna. Adoro arte em todas as suas formas de expressão, dança, leitura e escrita. Aprecio viajar e participar de aventuras radicais. Meu lema de vida é: “viva intensamente!”.

 

Minha determinação é destacar vozes que merecem ser ouvidas, através do meu trabalho que também é meu propósito de vida. Conecte-se comigo no Instagram @mari_chagasoficial ou por e-mail: marichagas@mosaiky.com.br.

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