Autoestima e Deficiência: Um caminho de aceitação e empoderamento

A autoestima é a maneira como você se vê, o valor que dá a si mesmo e a confiança que têm em suas capacidades.

 

Imagine como essa percepção pode ser desafiadora quando você vive com uma deficiência. Enfrentar barreiras físicas e sociais diariamente pode abalar profundamente a forma como alguém com deficiência se sente. No entanto, existe um caminho de reconstrução dessa autoestima, que passa pela aceitação, resiliência e muito apoio.

 

A psicóloga clínica Marcia Pereira conhece bem esse caminho. Após sofrer um acidente que a deixou paraplégica aos 22 anos, ela enfrentou um processo doloroso de reconstrução da sua autoestima. “A imagem que eu tinha de mim mesma se despedaçou, e eu me vi mergulhada em um mar de autocrítica e vergonha”, conta Marcia. Esse sentimento de perda e inadequação é comum entre pessoas com deficiência, mas também pode ser transformado.

 

Para muitas pessoas com deficiência, a autoestima pode começar a despencar por causa do capacitismo – o preconceito que subestima suas capacidades. Como Marcia relata: “A sensação de inadequação e vergonha era esmagadora. Eu me via como uma sombra do que fui, e a cadeira de rodas parecia um símbolo de tudo o que eu havia perdido.” Esse olhar de inferiorização vindo da sociedade pode afetar profundamente a forma como a pessoa se vê, criando uma luta interna constante.

 

Mas a autoestima pode ser reconstruída revendo esse olhar que temos sobre nós e voltar a reconhecer nossa capacidade e nova identidade que vai se transformando ao longo da vida, seja de uma forma ou outra, conforme as transformações que sofremos. E essa reconstrução da autoestima e identidade começa com um processo de aceitação e ressignificação, como a própria Marcia aprendeu ao longo de sua trajetória.

 

 

Aceitação é o primeiro passo

 

Aceitar sua condição é o primeiro passo para reerguer a autoestima. Isso não significa desistir de seus sonhos, mas sim entender que a deficiência faz parte de quem você é, sem definir todo o seu valor. “Aceitar minha condição foi o primeiro passo para perseguir meus sonhos e objetivos”, reflete Marcia, ressaltando como a aceitação foi fundamental para sua jornada de transformação.

 

Essa aceitação é, na verdade, um ato de empoderamento. Quando você para de lutar contra quem é e começa a abraçar sua história, você ganha força. Com isso, a autoestima começa a ser reconstruída, pouco a pouco.

 

 

Suporte é essencial

 

Nenhuma jornada de reconstrução da autoestima acontece sozinha. Receber apoio é fundamental. Marcia destaca o papel de seu marido, Claudio, como um pilar de força e apoio durante os momentos mais sombrios: “Ele nunca me deixou só, mesmo nos momentos mais difíceis”. Esse suporte emocional e afetivo, podem ser decisivos para que a pessoa com deficiência se sinta valorizada e confiante para enfrentar os desafios.

 

E o que fazer com o capacitismo? O preconceito que subestima as capacidades de uma pessoa com deficiência é uma das maiores barreiras psicológicas. Marcia lembra como esse preconceito afetou sua autoconfiança: “O capacitismo foi um adversário feroz, mas também um catalisador para minha determinação.” Ela decidiu que não seria definida pelos preconceitos e, em vez disso, buscou conquistar seu espaço.

 

Para quem vive com deficiência, o primeiro passo para enfrentar o capacitismo é acreditar no próprio valor. “Ser cadeirante não define quem eu sou”, afirma Marcia, que hoje vê sua cadeira de rodas não como uma limitação, mas como parte da sua identidade e força.

 

Reconstruir a autoestima é possível, mas exige tempo, paciência e trabalho interno. Para Marcia, “resiliência, otimismo e felicidade” foram suas companheiras ao longo do caminho. Ela também destaca a importância de cuidar de si mesma, fisicamente e emocionalmente, e nunca desistir de perseguir seus sonhos.

 

Se você está nessa jornada de reconstrução, lembre-se de valorizar cada conquista, por menor que seja. E, acima de tudo, rodeie-se de pessoas que te incentivam e te apoiam, assim como Marcia encontrou esse suporte em sua família.

 

 

O valor de ser quem você é

 

A autoestima, para qualquer pessoa, é construída ao longo do tempo. Para quem vive com uma deficiência, os desafios podem ser maiores, mas isso não significa que a reconstrução da confiança seja impossível. Aceitação, apoio e coragem para enfrentar o capacitismo são ingredientes essenciais para redescobrir o próprio valor.

 

Como Marcia compartilha, “aceitação é a chave para a liberdade”. Sua jornada é um lembrete de que, apesar das dificuldades, é possível viver plenamente, buscar a felicidade e sonhos. Afinal, o valor de uma pessoa não está em suas limitações, mas em sua força e em suas conquistas.

Mari Chagas

Mari Chagas

Jornalista

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Sou colunista da Mosaiky, uma mulher com deficiência que vive há 28 anos com paralisia cerebral. Aprendi a transformar meus desafios em inspiração. Sou influencer digital PCD de Americana, interior de SP.

 

Amo comunicação, estudo jornalismo e tenho uma grande paixão por narrativas autênticas. Produzo conteúdos e publico em jornais, além de ser ativa nas redes sociais e aqui na minha coluna. Adoro arte em todas as suas formas de expressão, dança, leitura e escrita. Aprecio viajar e participar de aventuras radicais. Meu lema de vida é: “viva intensamente!”.

 

Minha determinação é destacar vozes que merecem ser ouvidas, através do meu trabalho que também é meu propósito de vida. Conecte-se comigo no Instagram @mari_chagasoficial ou por e-mail: marichagas@mosaiky.com.br.

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