Devanir de Lima, 53 anos, enfrentou desafios significativos desde cedo. Aos 3 anos, uma doença chamada uveíte comprometeu sua visão, atingiu inicialmente o olho direito e, aos 11, o esquerdo, o que resultou na perda total da visão. Foi nesse momento que sua trajetória de superação e conquista começou a ser escrita.
Devanir nasceu em um sítio no interior do Paraná e encontrou dificuldades para estudar em escolas despreparadas para recebê-lo, assim como muitas crianças na época. Na Zona Rural, não havia escolas inclusivas ou com a mínima estrutura para atender a crianças com deficiência visual. Aos 12 anos, mudou-se sozinho para Curitiba e sua realidade mudou.
Na capital paranaense, estudou em uma instituição especializada para pessoas com deficiência visual e lá pode aprender habilidades essenciais para sua independência, como mobilidade e o sistema de escrita Braille, conhecimentos que contribuíram também para o desenvolvimento de sua autoestima. A mudança foi crucial para sua formação pessoal e acadêmica, apesar de ter lidado com a distância da família.
Após concluir o ensino fundamental, Devanir retornou a Arapongas – cidade de seus pais, onde terminou o ensino médio.
Optou pelo curso de pedagogia quando se mudou para o interior do estado de São Paulo, com o objetivo de contribuir na área educacional. Sua jornada acadêmica se estendeu a pós-graduação, e atividades esportivas, que desempenharam um papel importante em sua inclusão social e superação.
O esporte como inclusão e transformação
Desde a infância, Devanir demonstrava paixão por esportes. Ele praticava futebol, atividade que contribuíram para sua socialização. Mesmo com a deficiência visual, destacou-se em competições e representou a Seleção Brasileira em algumas modalidades.
Ao mudar-se para Sumaré (SP), encontrou um ambiente mais propício para a prática esportiva e passou a integrar projetos voltados para pessoas com deficiência. Com o tempo, tornou-se educador e orientador em diversas iniciativas, atuou em cidades como Paulínia, Cosmópolis e Campinas, locais onde ajudou a implementar ações que promoviam a inclusão de pessoas com deficiência no esporte.
Com formação em Letras e especialização na área de Educação, Devanir compartilhou conhecimentos em escolas e projetos sociais. Ele acreditava na educação como ferramenta de empoderamento para pessoas com deficiência, criou impacto real em sua atuação profissional com jovens e adultos.
O convite para o projeto “Graffiti #PraCegoVer®”
O “Graffiti #PraCegoVer®” surgiu como uma oportunidade inesperada. Sueli Parisi, idealizadora do projeto, “descobriu” a história de Devanir e o convidou para fazer parte da execução.
Sabia que seria algo especial, capaz de abrir portas para muitas pessoas cegas no Brasil”, recorda ele.
O projeto propunha tornar o graffiti uma forma de arte urbana – geralmente inacessível a pessoas com deficiência visual. Então, seria uma experiência inclusiva.
O desafio era adaptar o graffiti para que pessoas cegas ou com baixa visão pudessem apreciá-lo. Devanir colaborou com a equipe na criação de texturas e formatos que permitisse a leitura tátil sem comprometer a estética da arte.
O objetivo era criar algo confortável para o toque e garantir a legibilidade do Braille, mas sem perder a harmonia visual”, explica.
No Beco do Batman, por exemplo, as imagens de macacos foram adaptadas para que pudessem ser “lidas” pelas mãos.
Após meses de planejamento e testes, a equipe transformou o graffiti em uma arte acessível, revolucionou assim a forma como se pensa sobre arte e inclusão.
Para Devanir, foi um trabalho transformador com uma equipe enérgica, apaixonada e dedicada. Ele acredita que a arte deve ser inclusiva, permitir que todas as pessoas se sintam pertencentes.
O graffiti acessível empodera pessoas cegas, oferece pertencimento e igualdade em espaços públicos”, afirma.
Um legado de inspiração e inclusão
A história de Devanir de Lima é um exemplo claro de como a arte, a educação e o esporte podem ser ferramentas poderosas de inclusão e transformação social. Sua participação no projeto “Graffiti #PraCegoVer®” não apenas destacou sua dedicação à acessibilidade, mas também abriu portas para que muitas outras pessoas com deficiência visual possam se sentir vistas, valorizadas e conectadas com a arte urbana.
Ele nos ensina que a superação vai além de enfrentar os desafios impostos pela vida. É sobre transformar barreiras em oportunidades, é sobre abrir caminhos para que outros também possam trilhar.
“O impacto do projeto é muito mais profundo do que a adaptação do graffiti; é um símbolo de empoderamento, de pertencimento e de como a sociedade pode ser mais justa e acessível para todos.”
Com sua trajetória de luta e conquistas, Devanir inspira não apenas a comunidade com deficiência visual, mas todos nós, ao mostrar que inclusão não é um favor, mas um direito. Seu legado nos desafia a considerar a acessibilidade como essencial para todos os aspectos da vida das PCDs, pois a possibilidade da autonomia dada de poder participar ativamente na sociedade e desfrutar dos espaços culturais e sociais, reflete na autoestima e senso de pertencimento social.
O trabalho do Devanir é feito de fato para todos e celebramos essa parceria que retrata perfeitamente a filosofia e objetivo da Produtora Mosaiky para o mundo.
Os projetos da Mosaiky provam que acessibilidade conecta vidas.
Obrigada por chegar até aqui.
Um grande abraço acessível.