A relação entre Pessoas com Deficiência e a sociedade ao longo dos séculos

A relação entre pessoas com deficiência (PcDs) e a sociedade evoluiu significativamente ao longo da história. Desde a antiguidade até os dias atuais, diferentes culturas e épocas trataram a deficiência de formas distintas, variando entre exclusão, assistencialismo e inclusão progressiva.

 

Esse percurso histórico reflete não apenas o desenvolvimento das instituições e das leis, mas também as mudanças na percepção da sociedade sobre a diversidade humana.

 

Na antiguidade, as pessoas com deficiência eram vistas de formas distintas dependendo da cultura. Em civilizações como a grega e a romana, predominava a ideia de que indivíduos com deficiência eram inferiores e, muitas vezes, eram abandonados ou mortos ao nascer. Na cidade de Esparta, por exemplo, bebês considerados “imperfeitos” eram descartados, pois a sociedade valorizava a força e a perfeição física.

 

Por outro lado, em algumas culturas antigas, como a egípcia e a mesopotâmica, pessoas com deficiência poderiam ocupar funções especiais, como sacerdotes ou oráculos. A ideia de que a deficiência poderia estar ligada a dons espirituais também esteve presente em diversas culturas indígenas e africanas.

 

 

Entre a caridade e a segregação

 

Durante a Idade Média, a igreja teve um papel central na forma como PcDs eram tratados. A deficiência era muitas vezes vista como um castigo divino ou como um teste de fé, o que levou à criação de abrigos e asilos administrados por instituições religiosas. O assistencialismo predominava, e a inclusão não era um objetivo.

 

Ao mesmo tempo, as pessoas com deficiência também eram marginalizadas e podiam ser alvo de perseguições, especialmente durante a Inquisição. Muitos eram considerados “possuídos” ou “amaldiçoados” e enfrentavam tratamento cruel.

 

 

Renascimento e Iluminismo: O início das mudanças

 

Com o Renascimento e, mais tarde, o Iluminismo, começaram a surgir ideias mais racionais sobre a deficiência.

 

A ciência ganhou espaço na explicação das condições físicas e cognitivas, e os primeiros métodos de educação para pessoas com deficiência foram criados.

 

Em 1760, o abade Charles-Michel de l’Épée fundou a primeira escola para surdos na França, abrindo caminho para a educação especializada.

 

No entanto, ainda predominava a ideia de que a deficiência era um problema a ser corrigido, e as pessoas com deficiência continuavam a ser segregadas da sociedade.

 

 

Os primeiros movimentos inclusivos

 

Com o avanço da Revolução Industrial, muitas pessoas com deficiência foram isoladas em instituições, muitas vezes em condições precárias. A ideia de que deveriam ser afastadas do convívio social predominava, reforçada por teorias eugênicas (melhorar biologicamente a imperfeição)  que defendiam a exclusão dos “imperfeitos”.

 

Além disso, muitas famílias, por vergonha ou por não saberem como lidar com a deficiência, internavam seus parentes em hospitais psiquiátricos, onde muitos PcDs foram submetidos a tratamentos desumanos.

 

No Brasil, esse tipo de prática foi comum durante o século 19, especialmente antes da reforma psiquiátrica, quando pessoas com deficiência intelectual ou física eram colocadas nesses locais sem necessidade, sofrendo negligência e maus-tratos.

 

Entretanto, no final do século 19 e início do 20, surgiram movimentos que lutavam pelos direitos das pessoas com deficiência. A Primeira e a Segunda Guerra Mundial também trouxeram uma nova perspectiva, pois milhares de veteranos voltaram com deficiências físicas e necessitavam de reabilitação e reinserção na sociedade.

 

No Brasil, durante o século 20, as pessoas com deficiência ainda enfrentavam marginalização, sendo muitas vezes internadas em instituições psiquiátricas ou vivendo à margem da sociedade.

 

Apenas com a Constituição de 1988, começaram a surgir garantias mais concretas de direitos para PcDs, incluindo acesso à educação e ao trabalho.

 

 

O início da luta por direitos

 

A segunda metade do século 20 foi marcada pelo surgimento de movimentos de direitos civis que incluíram as pessoas com deficiência. Leis como o Americans with Disabilities Act (1990) – Lei dos Americanos com Deficiência ou Lei dos Americanos Portadores de Deficiência – e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU (2006) estabeleceram bases para a inclusão e a acessibilidade.

 

No Brasil, avanços significativos ocorreram com a Lei Brasileira de Inclusão (2015), garantindo direitos fundamentais como acesso à educação, ao trabalho e à mobilidade urbana. Além disso, programas como o Benefício de Prestação Continuada (BPC) e cotas para PcDs no mercado de trabalho contribuíram para avanços na área.

 

 

Desafios atuais e caminhos para o futuro

 

Apesar dos avanços, ainda há muitos desafios. O capacitismo, a falta de acessibilidade e a exclusão no mercado de trabalho são barreiras que precisam ser superadas.

 

Com o avanço da tecnologia, ferramentas como o OpenMaps têm facilitado o acesso à informação para pessoas com deficiência auditiva, visual ou cognitiva. Por meio de dispositivos móveis, esses usuários podem obter dados importantes sobre diversos locais. Além de texto, o OpenMaps oferece recursos em áudio, vídeo e imagens — e em breve também em Libras — para tornar a experiência ainda mais completa e acessível.

 

A conscientização social tem desempenhado um papel fundamental na construção de uma sociedade mais inclusiva e acolhedora.

 

No Brasil, a implementação efetiva de políticas públicas ainda enfrentam dificuldades, especialmente em relação à fiscalização do cumprimento das leis de acessibilidade.

 

No entanto, o fortalecimento de movimentos sociais e a crescente presença de PcDs na mídia e na política demonstram um avanço rumo a uma sociedade mais justa e acessível para todos.

Mari Chagas

Mari Chagas

Jornalista

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Sou colunista da Mosaiky, uma mulher com deficiência que vive há 28 anos com paralisia cerebral. Aprendi a transformar meus desafios em inspiração. Sou influencer digital PCD de Americana, interior de SP.

 

Amo comunicação, estudo jornalismo e tenho uma grande paixão por narrativas autênticas. Produzo conteúdos e publico em jornais, além de ser ativa nas redes sociais e aqui na minha coluna. Adoro arte em todas as suas formas de expressão, dança, leitura e escrita. Aprecio viajar e participar de aventuras radicais. Meu lema de vida é: “viva intensamente!”.

 

Minha determinação é destacar vozes que merecem ser ouvidas, através do meu trabalho que também é meu propósito de vida. Conecte-se comigo no Instagram @mari_chagasoficial ou por e-mail: marichagas@mosaiky.com.br.

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